É NÓIZ

“O pior cego é aquele que não quer ver” (Ditado Popular)

E ae doutor, como ta essa força? Vô pirguntar melhor, como tá seu medo? Tá vendo como nóiz somo foda? Tamu tocando o terror! Até helicóptero tamu tá dirubando!

Que foi patroa, nunca me viu não? Pra senhora eu num exesto mermo! A madama só se preocupa com a senhora e o quanto consegue gastar do cartão de crédito do teu macho cheio das bufunfá. Aliás, cês dois num tem a mínima idea do que é minha vida, morou!

Nóiz é produto de tudo ocês. Somo o resultado da alienação e o descaso com o País; é... Agente sabe falar difície dona! Só que a diferença é que nós num pode fazer nada, diferente de ocês. São ocês que vota em corrupto! São ocês que se vende por qualquer dimdim ou coisa podre e velha que neguim lá de Brasília dão pra ocês. Pensa que eles tá preocupado com a segurança de ocês? Tão nada!

Nóiz sabe, pois agente é que sofre na pele! Pensa que agente nasceu bandidu? Não, não doutor! Agente tá nessa vida porque não viu outra maneira... Eu sei que isso não justifica, mas a senhora sabe o que é passar fome? Já ouviu um filho dizer que tá com fome e ocê num ter nada pra dar pro muleque? É assim a vida madama, dura e cruel! Aí ocês diz, “tem muita gente que num entra nessa vida”. E ocês tem razão, é mesmo vacilo nosso! Mas veja só: O Estado Brasileiro (viu, eu sei falar dificie) num tá presente na favela.

Sabia barão, que quando eu era pequeno eu quase morri! É sangue bom... E sabe quem socurreu a minha mãe eu eu? O dono do pó, tá ligado? Foi ele que deu grana pra minha velha pagar um particular pra mim currar.

Esse papo de direitos humano é só pra gringo vê! Agente aqui do morro toma esculacho de tudo quanto é jeito. Do dono do pó, dos alemão, da sociedade... O jeito é ser do tráfico!
Por que que ocês acha que agente vende bagulho! Por que tem gente que curte sacou! Playboyzinho vem todo dia aqui pedi bença! É engraçado chefia; tem muito artista da TV, jogador de futebol, essa gente da playboyzada que faz campanha contra a violênça, mas tá aqui comprando feijão ou pó.

Sabe chefia, a violênça urbana é feita por eles que nuns financia. É gente que fuma, cheira, que dá a grana pra gente compra mais parada e nos armar. Agente aqui diruba até helicóptero pra mostrar a nossa força. Isso que aconteceu aqui no Rio é pra mostrar o quanto somu puderosos! Enquanto ocês tão comemorando Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil, eu to aqui, tocando o terror e mostrando pra todo mundo que só vai ter essas paradas se agente deixar, que tá todo mundo nas minha mão.

Granfino, madama, vou toca uma real aqui prô cês: Se agente num quiser, nem Deus entra aqui no morro, sacou? Alemão metido a besta que quer mostrar serviço, num aceita o “arrego” que nóiz paga, quer ser honesto, entra na bala mesmo! Só teve Pan aqui no Rio porque vieram negociar aqui com nóiz! Toda essa gente que ocês põe no poder pra roubar e fazer ocês de panhaço, vieram aqui. Nóiz falou pra fazer vista grossa, deixar agente vender nosso bagulho em paz e eles tiveram que aceitar.

Ô doutor, um dia eu vi nos nuticiário que gastaram um horror de dinheiro pra fazer o Pan. A madama sabe quanto gastaram? Pra onde foi tanta dinheirama? Não né? Vô tocar outra real aqui, a culpa da gente existir são de ocês! Enquanto ficarem aí, se preocupando com a vidinha de ocês, querendo ser tudo estrela de BBB, vai ficar assim, cada vez mais violento e tendo um poder paralelo na cidade, que num respeita nada nem niguém.

Madama e doutor, foi um prazer ter trocado um lero cum ocês, agora nóiz tem que libertar ocês que já deram a grana do resgate de ocês, valeu! E olha, fala pros reporti que nóiz num metemo bala na cabeça de ocês pro quê tamo de bom humor; se minha piriguete não tivesse dado a bucetinha pra mim, tivesse de bode, eu tinha ficado muito brabo e além de dar umas porradas na cara dela, tinha passado o fogo e ocês tá sabendo! É isso aí, é nóiz!

“Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer”. (Geraldo Vandré).