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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

EUCLIDES & SUA RESSACA MORAL



Euclides amanheceu com uma ressaca enorme e uma vergonha transcendental. Diferente daqueles que “perdem a memória” quando bebem, ele sabia tinha feito merda.

Levantou-se, cambaleante, trôpego, vendo o Mundo girar; caminhou até o banheiro segurando nas paredes. Sentiu cada gota de água tocando seu corpo e lavando sua alma; após anos de amor incontido, declarou-se, porém, acovardou-se. Ao lembrar da noite passada começou a chorar; chorou pela festa, que foi muito bonita, chorou ao lembrar da cara de surpresa dela ao receber o seu beijo, mas chorou principalmente pela sua covardia...

Saiu do banheiro e foi direto para cozinha. Percebeu que a casa estava limpa, nem parecia que ali tinha ocorrido uma festa. Na geladeira um bilhete com os dizeres: “amigo, quando ler esse recado me ligue. Assinado: Neto”.

Neto era seu amigo mais desde sempre, dos tempos de criança. Foi ele que lhe deu força quando o pai morreu em um acidente de trânsito aos 15 anos; foi ele que o consolou quando Euclides descobriu o seu primeiro chifre; é ele o amigo de todas as horas.

Antes de ligar para o amigo, preparou a alma... Sendo a amizade mais longa e a mais sincera, sabia que precisaria de toda a paciência e atenção possíveis, pois ouviria coisas sinceras, e muitas das vezes, sinceridade dói. A amizade deles sempre foi baseada no companheirismo, e isso implica em sinceridade.

A ressaca moral de Euclides lhe doía na alma... Queria mandar Neto “tomar no cú”, mas não poderia; que moral ele tinha naquele momento para evitar algum esbregue? Então ligou... Estava na sala, com copo de águas nas mãos e uma bolsa de gelo na cabeça.

A cada chamada do telefone seu coração ficava pequeno; a tensão de saber o tamanho da merda da noite anterior lhe arrepiava a espinha... “Como você me faz isso Euclides, seu covarde?!” A pergunta/afirmação lhe cortou a alma; não tinha resposta para tal questionamento. O que venho a seguir foi como se um pai surrasse o filho. Ouvia tudo com atenção e parcimônia... Respondia apenas com monossílabos como se seu amigo estivesse ali, à sua frente.

Foram mais ou menos 20 minutos de um falando e o outro ouvindo tudo. Ao fim, a pergunta no tom que só os pais fazem aos filhos: “e aí, você está bem?”. A resposta vem feito um filho envergonhado ao pai, “sim! Estou vivo...”.

Vivo estava, mas resaqueado moralmente. Cada palavra dita por Neto ecoava e se repetia, torturando Euclides. Queria apagar aquela noite feito um pintor querendo apagar o rabisco errado na tela; sabia que o pior ainda estava por vir... O restante dos amigos, e a mulher de sua vida que na secretária eletrônica confessava e pedia explicações.

O Mundo de Euclides se viu embaralhado; logo ele, que sempre foi tão certinho com seus sentimentos viu-se num vendaval que lhe atordoava. O que fazer agora? Como agir diante do inesperado? Eis as questões de Euclides, que se vê tendo que ser forte como um touro para exorcizar seus fantasmas mais temíveis.



NOTAS:


Neste domingo recebi um e-mail perguntando o que havia comigo, escrevendo “confissões” através de personagens. Como respondi a pessoa, Euclides tem um pouco de mim e eu tenho um pouco de Euclides. Muito do que escrevo aqui é uma forma de re-visitar meu passado, mas não quer dizer que tenha vivido ou esteja vivenciando tais situações. Esse blog é meu “exercício diário de fingimento”, e espero que todos saibam compreender e entender isso e não levar a mais do que sugere os textos.

O Neto existe, é o articulista do blog Sakuxeio. É uma forma que encontrei de homenageá-lo, o que farei a partir de agora com pessoas que deixem comentários interessantes aqui. Acho legal essa troca de idéias que advém de cada post, e nada mais justo que envolver cada um na vida de Euclides.

8 devaneios:

DANIEL disse...

UM PONTO QUE QUERO DEIXAR AQUI. OS TEXTOS DE EUCLIDES SÃO ESPLANATIVOS, OU SEJA, A NARRATIVA FAZ COM QUE O LEITOR IMAGINE DETALHES DE FATOS PSICOLÓGICOS E EXTERNOS DE EUCLIDES. NÃO TENHO A MÍNIMA PRETENÇÃO DE "LEVAR O LEITOR PELAS MÃOS" CONDUZINDO A LEITURA. QUERO DAR A TODOS A LIBERDADE DE IMAGINAR EUCLIDES DA FORMA COMO BEM ENTENDER, OK. UM ABRAÇO A TODOS!

Neto disse...

ahahahahah
Obrigado pela referência amigo. Principalmente nesta frase: Queria mandar Neto “tomar no cú”... :D

Amigos são isso mesmo (risos). Eles dizem a verdade um pro outro de forma sincera, sejam elas boas ou não - e ainda mais depois de um puta bebedeira como essa.

A trama é interessante Daniel, e eu aproveito para lembrá-lo da volta por cima do Euclides. Não existe nada tão ruim que não possa ficar pior não é?, mas tambem não existe mais pra onde cair depois que se chega ao fundo do fundo dopoço.

A verdade é que depois que se chega no fundo a tendência agora é sair dele, de subir, e não mais cair. Baseado nas experiências dolorosas que passou e aprendeu, em todas as merdas que cometeu, e em todos os problemas que causou.

Tem um ditado que diz que, nesses casos, o maior mal que ele comete (ou anda cometendo) é apenas à si mesmo. É hora de acordar.

E não se preocupe com o "qualquer semelhança com o Euclides é mera coincidência...", continue o texto, quem já não passou por coisas parecidas na vida?

Eu, inclusive, por paixão a uma mulher, já fiz cada merda, parceiro! :D

Abração

ps. ---- mudando de assunto ---
Valeu o texto sobre a moça da Uniban. Eu ia falar sobre ela no SX, mas vou esperar para publicar o seu post bomba :D

Carol disse...

Ahauhau,q engraçado nunca tinha parado p pensar que poderia ser você ou não, ou que teria um pouco de vc... pensei que apenas fosse um personagem vivendo uma vida de personagem...
Gosto da forma que escreve, q como vc msmo diz, deixa q a nossa imaginação diga quem é Euclides.
mt bom...^^

Lugirão disse...

Engraçado , quando vi o "Neto", pensei na pessoa que se referiu, mas depois achei que não, e na frente descobri que era ele,rs.

Na maioria das vezes colocamos algo de nós, ou de alguma situação que vivemos ou algué próximo a nós viveu...

Gostei do nome Euclides... e gostei do texto também...

Bahasi disse...

Saudade dos seus textos, Euclides da rua 37! Muito bom ler-te novamente!

PR Iuris disse...

Certa vez, um amigo meu, na verdade meu irmão amigo, minha versão masculina, escreveu lindos textos me homenageando em seu blog. E depois criou a história de uma sociedade onde colocava todos seus grandes amigos nela. Adorava me ver lá. Eu era uma personagem com poderes, achava muito legal, em especial porque ele escreve bem pra KCT.

Adorei a homenagem ao Neto, ele merece. em especial porque eu adoro o Neto.

COntinua com o Euclides, eu tô me apaixonando por ele. Vontade de abraçar e dizer que depois passa. Rs...
Beijossss

Sonia Pallone disse...

Todo aquele que escreve tem um pouco de si retratado nas linhas...Não há como ser diferente, falo por mim...Sou várias mas sou uma só.Bjs

~*Rebeca*~ disse...

Daniel,

Vai participar da blogagem, preciso da sua confirmação.

Que sua quarta seja de luz, querido amigo.

Rebeca

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BOO-BOX!!!

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