Joel Maduro mandou-me e-mail contando que sua vizinha, enganada por pastores televisivos, está condenada a pagar 12 parcelas de R$ 75,13 por um televisor de 29 polegadas e um DVD player.
Dona Merandolina, filhos criados, solitária, insone, foi pega no pé de apoio. Na madrugada, os pastores incitavam o povo a participar de uma tal fogueira santa. Na noite seguinte, a viúva foi ao posto de venda de indulgências e lá, depois de deixar contribuição no envelopinho, foi convencida a procurar marido na Terapia do Amor.
Para conseguir um companheiro, deveria participar de todas as promoções do templo (Rosa Ungida, Óleo do Monte das Oliveiras, Lasca da Cruz de Jesus Cristo, Martelo de Fogo, Arca Dourada, Trono do Salvador, Água do Rio Jordão, Boas Notícias...) “Pode ser que a metade de sua laranja esteja numa destas reuniões, irmã. Toda oportunidade é válida”. Os trocadinhos da pensão deixada por Adamastor e da aposentadoria paga pelo INSS passaram para as mãos dos emissários de Deus.
Dia 28, sem um tostão no bolso - ou na bolsa -, Merandolina apelou para oração eletrônica. Seguia à risca as instruções do pastor. “Ponha um copo com água sobre a televisão”. Ela catou um caneco de alumínio, meio amassado de tanto bolar pela casa, encheu-o até o talo com agá-dois-ó e posicionou-o sobre o aparelho. “Feche os olhos”. Obediente, a viúva ficou às escuras. “Erga as mãos para o céu”. E lá estava Merandolina na pose que o mestre mandou.
Quando o pastor começou a ladainha, ondas sonoras movimentaram o caneco que, em seguida, virou e derramou água em cima dos circuitos integrados, fonte e flaibeque. Em vez do “louvado seja Deus”, Merandolina ouviu o chiado do líquido fervendo sobre bases quentes. Uma fumaceira danada invadiu a sala. A televisão foi pro beleléu.
O pastor disse que não tem culpa, “tudo aconteceu por causa de seus pecados, irmã”. O Tribunal de Pequenas Causas não aceitou queixa. Com raiva, Merandolina cancelou todos os compromissos com a igreja, mandou os pastores pros quintos dos infernos, e, em 12 parcelas, comprou um combo: televisor 29 polegadas com aparelho de Dvd.
Hoje, nas noites insones, a viúva aciona os controles remotos e se diverte com as estripulias em filmes pornográficos. Disse que vai comprar, na primeira folga, consolo de segunda mão, oferecido por comadre Sebastiana. Com pilhas alcalinas, é claro.
*Esse texto é originário do site Fonte Brasil, da seção Crônica do Aroldo, quando li tive uma crise de risos e pensei, “vou postar!”. Tá aí, uma crítica bem humorada da verdadeira indústria que virou a religião.
Dona Merandolina, filhos criados, solitária, insone, foi pega no pé de apoio. Na madrugada, os pastores incitavam o povo a participar de uma tal fogueira santa. Na noite seguinte, a viúva foi ao posto de venda de indulgências e lá, depois de deixar contribuição no envelopinho, foi convencida a procurar marido na Terapia do Amor.
Para conseguir um companheiro, deveria participar de todas as promoções do templo (Rosa Ungida, Óleo do Monte das Oliveiras, Lasca da Cruz de Jesus Cristo, Martelo de Fogo, Arca Dourada, Trono do Salvador, Água do Rio Jordão, Boas Notícias...) “Pode ser que a metade de sua laranja esteja numa destas reuniões, irmã. Toda oportunidade é válida”. Os trocadinhos da pensão deixada por Adamastor e da aposentadoria paga pelo INSS passaram para as mãos dos emissários de Deus.
Dia 28, sem um tostão no bolso - ou na bolsa -, Merandolina apelou para oração eletrônica. Seguia à risca as instruções do pastor. “Ponha um copo com água sobre a televisão”. Ela catou um caneco de alumínio, meio amassado de tanto bolar pela casa, encheu-o até o talo com agá-dois-ó e posicionou-o sobre o aparelho. “Feche os olhos”. Obediente, a viúva ficou às escuras. “Erga as mãos para o céu”. E lá estava Merandolina na pose que o mestre mandou.
Quando o pastor começou a ladainha, ondas sonoras movimentaram o caneco que, em seguida, virou e derramou água em cima dos circuitos integrados, fonte e flaibeque. Em vez do “louvado seja Deus”, Merandolina ouviu o chiado do líquido fervendo sobre bases quentes. Uma fumaceira danada invadiu a sala. A televisão foi pro beleléu.
O pastor disse que não tem culpa, “tudo aconteceu por causa de seus pecados, irmã”. O Tribunal de Pequenas Causas não aceitou queixa. Com raiva, Merandolina cancelou todos os compromissos com a igreja, mandou os pastores pros quintos dos infernos, e, em 12 parcelas, comprou um combo: televisor 29 polegadas com aparelho de Dvd.
Hoje, nas noites insones, a viúva aciona os controles remotos e se diverte com as estripulias em filmes pornográficos. Disse que vai comprar, na primeira folga, consolo de segunda mão, oferecido por comadre Sebastiana. Com pilhas alcalinas, é claro.
*Esse texto é originário do site Fonte Brasil, da seção Crônica do Aroldo, quando li tive uma crise de risos e pensei, “vou postar!”. Tá aí, uma crítica bem humorada da verdadeira indústria que virou a religião.
3 devaneios:
Texto muito bem construído. A religião é um mercado de alma, de vida. Uma pouca vergonha!
A religião oferece um bom material para as críticas,texto bem criativo. Valeu a postagem.
Divertido. Dinheiro só compra é isso aí mesmo. Ahahaha.
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