
Tínhamos uns 20 anos quando nos conhecemos. Na época, eu ainda estava patinando na vida, sem saber o que queria ser quando crescer. Ela não! (...) Sempre foi ativa, persistente, mulher de personalidade forte que sempre soube o que queria.
Na época ela já estava no final do seu curso de Direito e bem encaminhada para o melhor escritório de advocacia da cidade, contudo, avisou-me que ao pegar o canudo iria para um grande centro, como Rio de Janeiro, São Paulo ou Minas Gerais. Já eu... Bem, eu, queria ficar aqui tocando na minha bandinha de Blues.
Nosso encontro foi meio sem querer; ela estava num barzinho onde eu tocava. Estava acompanhada de amigos sendo que um deles estava com o braço envolto em seu pescoço fazendo pequenas carícias em seu ombro. Namorado? Não! Mais tarde soube que era um amigo gay que tentava com ela não dá pinta.
Enquanto tocava as músicas da Jane Joplin nossos olhos começaram a se cruzar, e a gostar dessa dança de insinuações. Lá pelas tantas da noite tomei coragem e pelo garçom mandei-lhe um bilhete com os dizeres, “se esse cara não for seu namorado, e se não tiver ninguém na sua vida, queria ter o prazer de conhecer você melhor”. Talvez esse “prazer” tenha sido lido de outra forma, afinal, eram os anos 70, sexo, drogas e rock roll na cabeça!
Os dias que se seguiram foram da mais pura loucura! Pink Floyd e Led Zeppelin na vitrola, cocaína na veia e sexo entre os nossos sexos... Por certo momento da vida pude vê certa beleza na vida, algo que transcendesse o comum, o lógico, o racional! (...). Noite após noite a coisa ia ficando mais séria e os sentimentos mais fortes.
Eram tempos de um sexo experimental, sem compromisso, apenas com o compromisso de satisfação de ambos. Orgias eram freqüentes e normais, porém, os sentimentos “caretas” como ciúme, posse e amor estavam ali, presentes, mas camuflados. E foi nessa armadilha que me lasquei! Num dos bacanais já programados que íamos apareceu um cara novo, diferente, que fez mudar tudo! Na hora que a vi olhando para ele não tive dúvidas de que a tinha perdido. Na hora ela o escolheu para a “empreitada sexual do dia” e eu recusei. Após uma áspera discussão fui embora e ali terminou nosso “relacionamento”.
Anos depois descobri que os dois tinham casado e ela já esperava um filho. Segundo o que soube, ela apareceu grávida e como sua família era tradicional da cidade, obrigou-os a juntarem as escovas de dente. Num dos meus pensamentos mais loucos imaginava ser o pai do filho dela, contudo, nos anos 70 ter essa certeza era meio difícil.
Ao sair com seu carro importado ela me encarou e foi embora... Será que meu reconheceu? E se reconheceu, lembrou de nosso envolvimento amoroso? E se lembrou, será que ela tem a consciência de que foi o grande amor de minha vida? São perguntas que ficarão sem resposta, mas há algo que sei que é a certeza de que o que passamos foi o pavimento para outras situações amorosas que vivi.
7 devaneios:
Em todas as minhas andanças pela net nunca encontrei um texto tão inteligente e parecido com aquilo que vivi quando adolescente como esse. Estou pasmo!... Você tirou as palavras da minha boca (com a única diferença que, na época, eu não tocava, cantava)... Valeu, Daniel! dei uma volta ao passado agora he he Putz, cara! Até o bilhete no guardanapo é semelhante ao que escrevi: "se não tiver ninguém na sua vida, queria ter o prazer de conhecer você melhor"!!!!
Não é toa que o tenho como amigo, parece mesmo que temos algo em comum!
Ou seria o Euclides? rs :-)
Olá, Daniel....
E foi ai que me lasquei... o ciúme , posse é o que lasca nos relacionamentos de qualquer tipo.
Gostei do devaneio...
Beijão
Olá, Daniel.
Inicialmente, desculpe pelo sumiço.....estive resolvendo alguns assuntos importantes.
Sobre o texto: essa história me fez pensar que o amor ainda existe, que os grandes e mágicos encontros romanticos ainda são uma realidade. Alias, msm que a correria nos impeça de perceber ou admirar o romantismo, não podemos negar que os mágicos romances existem, sim....que a intensa troca de olhares apaixonados entre duas pessoas existe, sim. Enfim, acho que fugi um pouco do tema do seu post, mas o texto me fez pensar sobre essas coisas.
obs: vou ficar, temporariamente, ausente da blogosfera para atender uma demanda profissional urgente, mas, assim que eu puder, eu volto.
abraçosssssssss
Daniel,
Ótimo conto. Repleto de elementos históricos que determinam o destino dos personagens.
O fim do personagem-narrador demonstra que, mesmo num "mundo novo" ser careta é o que há de mais seguro.
Abração, e uma ótima quinta-feira.
O amor fica sempre no coração...paz.
imaginário ou realidade? não sei!! mas é simplesmente envolvente... parabéns,,,
Interessante como o amor se configura, não é mesmo? Gostei de como a trama foi se desenhando, como as sensações foram me abraçando e fiquei eu com as mesmas perguntas que os personagens. rs
Bacio
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